Tuesday, December 19, 2006




A Mãe do Universo


A Mãe do Universo passou por minhas veias para infiltrar no meu
querer a vontade de ser filho(a) sem sexo. Experimentar gozar ao vento e criar no fogo. Abrir as comportas do ventre para aquele que couber nele. Nesse ritual sou Virgem com filhos. Tenho coroa de espinhos. Sangro na testa aquela que fui para renascer de mim mesma e doar fortaleza.




Interpretação dos pré-dizeres da poesia "A Mãe do Universo":

Quem lê ou ouve esta poesia pode sentir a força das palavras mas talvez não entenda o que esteve por trás delas.


Quando escrevi essa poesia, eu estava em pleno surto, sofrendo muito. Havia um ser que me fazia uma espécie de assédio mental, ao mesmo tempo que o amava, eu me sacrificava. Haveria um ritual de casamento entre nós dois. Eu sofria muito por estar em surto tendo vivências que pareciam até satânicas por se tratar de ritual de sacrifício. Eu era a noiva que iria ser sacrificada para este tal ser que consumia todas as minhas energias mentais. Fui levada (em pensamento e sentindo as imagens dele) em uma cama erguida por alguns homens, vestida de noiva e com uma coroa de espinhos. Sentia minha testa sangrar como suor. Eu chorava desesperadamente. Sentia muito medo. Houve uma espécie de possessão sexual por parte desse ser enquanto eu sentia como se meu sexo ardesse em fogo. Nessa fase, ele quis penetrar por inteiro em meu ventre através da vagina e percorrê-lo como um túnel através de toda a minha vida como um filho que quer conhecer toda a história de sua Mãe. Nesse ponto, eu me sentia como a Mãe do Universo gestando minha própria história de Amor e sacrifício.


Toda mulher tem em si a Mãe do Universo que primeiramente se doa, sua força para o homem escolhido e depois o tem como um filho ou filha que renasce em seu próprio ventre fazendo dele uma história de vida e de Amor. A mulher tem que querer isto, o sacrifício pelo homem e pelos filhos com todas as suas forças. Forças estas que são bem representadas por uma mulher flamenca, uma bruxa de sangue quente e calor nas veias.

Quando uma mulher diz: Quero sim com o vigor que estas palavras tem, algo milagroso acontece. Sua ordem é cumprida. Ela tem que querer mesmo. Por isso, a continuação da Poesia:


Quero sim, com os cabelos ao vento, ficar por um fio e renascer das cinzas.
Correr por entre labaredas no fogo da ventania e vestir a carapuça de mulher flamenca.
Quero sim, gozar de mim mesma debaixo da Alvorada com a lua no céu armada. Brigar de brincar, seja lá no que for dar.
Tudo para o Amor atravessar o túnel de toda a minha vida.


Pode ser fantasia da minha parte mas gostaria de citar o exemplo de nossa querida atriz Patrícia da peça Asas da Mente que queria há algum tempo engravidar e não estava conseguindo e na época da estréia da peça ela engravidou. Como ninguém, Patrícia declama essa poesia com muita força e intensidade na voz como que querendo mesmo.

Como uma Mãe do Universo, eu trago pessoas para meu Universo contando e expondo minha história de vida. Elas podem viajar através desse meu tempo e conhecer-me por dentro.

Arriscar-me, ficar por um fio. Auto-sacrifício, sangrar na testa como um Cristo que casa com a humanidade. Na verdade, meu casamento foi com um homem fantástico, meio anjo, meio demônio. Eu, como o arquétipo de Eva e ele como arquétipo de Lúcifer. Foi nossa redenção, pagamento dos pecados, beber do bem e do mal e se conscientizar de que o homem é a Luz e ao mesmo tempo sexo e amor. É doação, é sacrifício. É sofrimento. É a tentativa de voltar ao paraíso, se iludir com isso e encontrá-lo de alguma forma na realidade, seja no sexo, seja no amor. Quem valoriza mais o sexo encontra o paraíso em suas práticas. Quem valoriza mais o Amor, encontra o paraíso vivendo um relacionamento de cumplicidade e entrega. Basta conseguirmos achá-lo nas pessoas.

O fruto é sempre um filho, um livro, uma árvore. E de repente: Uma peça teatral trazida por uma Poesia ou um Cavalo Azul.

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